Saturday, June 2, 2007

ACREDITO NA FERROVIA


Neste momento o Barreiro está, e já desde o início da década de 80, a perder população a um ritmo assustador. Esta cidade, que teve durante muitos anos uma “vida própria” fulgurante, em virtude do seu cariz industrial, está a tornar-se cada vez mais um dormitório de Lisboa, e mesmo ai “perde” para as urbes vizinhas, que contam com acessos que permitem encurtar as distâncias para a Capital. Poucos terão sido os Barreirenses que nunca teceram comparações entre o nosso concelho e o Seixal, Almada ou Montijo, em relação às infra-estruturas rodo e ferroviárias que servem o acesso dos moradores nesses concelhos a Lisboa. E em abono da verdade, a unanimidade de opiniões confirma que “perdemos aos pontos”! Relembro, todos os dias em que fiquei “em terra”, por intempéries ou greves da SOFLUSA, durante o período em que estudei em Lisboa. Não esqueço o clima de crispação e insatisfação, e até o sentimento colectivo de inferioridade, relativamente aos restantes habitantes da grande Lisboa, que tomava conta de todos aqueles que dependiam unicamente do transporte fluvial para chegar aos empregos e às escolas. Eu, e julgo que muitos de nós, nessas alturas, não desejávamos a existência de uma ligação rodoviária mais directa e rápida, mas sim um transporte público que pudesse ser uma verdadeira alternativa aos velhotes barcos azuis, que foram mais recentemente substituídos por modernos Catamarans, o que representou melhorias significativas ao nível do conforto e diminuição do tempo de viagem, mas que têm ainda mais dificuldade em navegar com mau tempo.

É bem verdade que no período antecedeu a construção da Ponte Vasco da Gama, fui um acérrimo defensor da construção dessa segunda travessia a partir do Barreiro. A minha posição assentava essencialmente no seguinte: seria menos dispendioso em termos económicos, e o impacte ambiental poderia ser minimizado relativamente à solução encontrada, visto que em relação ao nosso concelho não se punha, de uma forma tão vincada, a questão do potencial efeito nefasto sobre o ecossistema da Reserva Natural do Estuário do Tejo. Mas a verdade é que essa ponte é hoje uma realidade, e qualquer análise, feita pelo Governo, ou por quem quer seja, não pode ser alheia a esse facto!

Actualmente, será exagerado exigir a construção de uma terceira rodovia sobre o Rio Tejo, numa posição tão próxima às já existentes? Eu digo que sim! Poderia, esta rodovia, vir a ser sinónimo de um desenvolvimento considerável para o Município Barreirense? Eu digo que não! Porque não entendo por desenvolvimento a construção irracional e desenfreada, e especulação imobiliária selvática, que é o que acontece no Montijo, por exemplo. Desenvolvimento está, quanto a mim, directamente relacionado com a qualidade de vida que é possível proporcionar aos cidadãos. Será vantajoso aumentar o número de habitantes à custa de possíveis desastres urbanísticos e ambientais? Aumentar o número de veículos e o volume de gases expelidos por estes automóveis no centro da cidade, conferirá bem estar às nossas gentes, situação que será agravada pela confluência da utilização desta via pelos utentes dos concelhos vizinhos, como Moita e Palmela? Digo novamente que não! Haverá quem alegue que “o desenvolvimento do Barreiro foi feito à custa da implantação de indústria química, responsável por emissões gasosas brutais, e que esse foi um preço que tivemos que pagar”. Mas não é menos verdade que o mundo de lá para cá presenciou um desenvolvimento científico enorme, e com ele a consciência ambiental que não existia. A utilização de transportes públicos é reconhecidamente um comportamento que reduz significativamente as emissões de dióxido de carbono, minimizando, consequentemente, o efeito de estufa.

Por tudo isto, considero que a opção por uma ponte com valência exclusivamente ferroviária, será a solução mais acertada. Acredito que a população do Barreiro é responsável! Acredito que podemos ser um exemplo a nível nacional, de como é possível o desenvolvimento, e a incrementação da qualidade de vida, potenciando a utilização de transportes públicos. Não me esqueço que uma ferrovia, que permita a circulação dos comboios convencionais, dos comboios de mercadorias, e do TGV, poderá vir a ter um papel decisivo da reabilitação da Quimiparque, como parque industrial/empresarial que possa atrair os melhores projectos e investidores, e até constituir-se como uma plataforma logística central no plano regional, ou mesmo nacional, que seriam, sem qualquer dúvida, uma forma de criar mais emprego. Acredito que estas serão as verdadeiras mais valias de uma ligação Barreiro – Lisboa. Dotar a futura ponte de uma componente rodoviária, para além da ferroviária já confirmada, será perder mais uma oportunidade para “pensar global, actuar local”.

Acredito na ferrovia!

3 comments:

Anonymous said...

Permita-me que lhe deixe os meus parabéns e lhe diga que concordo consigo na totalidade.

Não desista desta sua luta, não estará sozinho.

Carlos Lopes

Paulo Freixinho said...

Olá!
Estou numa viagem pela blogosfera do Barreiro.
Achei que os textos do blogue estão muito bem redigidos.
Parabéns!

Um abraço,
Paulo Freixinho (autor de Palavras Cruzadas)

Anonymous said...

Por que nao:)